terça-feira, 22 de maio de 2012

Resenha de “Os Usos da Diversidade” de Clifford Geertz.



Um ensaio sobre o etnocentrismo.



O texto de Geertz trata da questão do etnocentrismo, resgata a importância do antropólogo no que se refere ao tema e destaca que a diversidade cultural faz parte das sociedades complexas.
Segundo Geertz é importante que os antropólogos passem a considerar o fato de haver diferenças entre os povos, sendo estas sutis ou não. Entretanto ele inicia seu texto mostrando-se revoltado com a opinião de outro antropólogo muito reconhecido. Geertz se surpreende com as palavras de Lévi-Strauss, quando este afirma que o etnocentrismo não apenas não é uma coisa ruim, como pode ser até uma coisa boa, pois a defesa de certos conjuntos de valores por parte das pessoas não tem nada de revoltante. Para Geertz, infelizmente essa é uma ideia que prevalece no pensamento social recente. Filósofos, historiadores e cientistas sociais se voltam para um tipo de impermeabilidade tipo “ nós somos nós” e “ eles são eles”, como defendida por Lévi-Strauss. E a partir disso faz um questionamento: será que esse afastamento é realmente o meio de fugir da tolerância emplacada pelo cosmopolitismo?
Geertz sabe que o consenso universal, quanto as normas, não virá num futuro próximo, as pessoas não terão a mesma opinião em todas as situações, pelo menos em breve e talvez nunca, entretanto não devemos nos render facilmente ao idealismo de nos considerarmos nós mesmos e os outros como não sendo nós. Segundo Geertz, não devemos encarar a diferença cultural como resultado de uma escolha individual de vida. Para Geertz, o problema do etnocentrismo está no impedimento que este produz, não permitindo que os indivíduos descubram de que ângulo estão postados em relação ao mundo, em outras palavras, o que realmente somos. O etnocentrismo obscurece as diferenças e as assimetrias entre as pessoas, significa que o etnocentrismo nos isola da possibilidade de mudarmos nossa mentalidade. Porém a história de qualquer povo é pautada na mudança de mentalidade, o encontro de culturas diferentes só pode provocar uma mudança de mentalidade em ambas. E o que se percebe atualmente é um verdadeiro processo de embaralhamento entre as culturas, o Oriente se confunde com o Ocidente alcançando proporções extremas, é difícil representar a França sem a presença dos Argelianos ou os Estados Unidos sem os Mexicanos, não há mais fronteiras sociais nem culturais e essa ausência de fronteiras culturais provoca um conflito de valores exemplificado no texto de Geertz pelo dilema dos médicos americanos em face da atitude do índio bêbado fazendo uso da máquina de diálise.
Para Geertz a etnografia tem uma função: ela coloca alguns de “nós” no meio de alguns “eles”, e alguns “eles” no meio de “nós”. Por isso a etnografia é a grande inimiga do etnocentrismo. Ela fornece narrativas e cenários para refocalizar a nossa atenção, com o objetivo de permitir nos conhecermos uns aos outros.
Contudo a intenção de Geertz não é jogar luz sobre a forma de fazer etnografia. O ponto central para Geertz é que mediante ao fato das barreiras culturais estarem se desfazendo e o mundo estar se misturando em áreas mal definidas, somos obrigados a pensar sobre a diversidade cultural de uma maneira bem diferente da qual estamos acostumados. Para ele, não há problema se as pessoas apreciam culturas distintas, o problema está onde há o etnocentrismo, onde as pessoas enaltecem seus heróis e definem seus inimigos. Dessa forma, é necessário compreender, no sentido de perceber a diferença, mas não é necessário compreender no sentido de concordar e ter a mesma opinião.
Geertz sabe que é um exercício árduo, mas é uma habilidade que temos que desenvolver. É no fortalecimento do poder de nossas imaginações para entender o que está diante de nós que se encontram os usos da diversidade.
Minha opinião é que nos dias atuais o embaralhamento cultural citado por Geertz continua acontecendo, talvez até de forma mais acelerada e irreversível, e as experiências passadas mostram que a defesa de certos conjuntos de valores se confundiu com a segregação de certos tipos raciais, como o preconceito de cor; bem como a ação de perpetuar certos aspectos religiosos se confundiram com atitudes discriminatórias, como nos casos de divórcio, de orientação sexual, etc. Enfim, nos dias atuais, não faz nenhum sentido defender o etnocentrismo. Concordo com Geertz que é necessário identificar as assimetrias existentes entre os indivíduos, mas não com a pretensão de mitigá-las e sim com a sabedoria de respeitar tanto os indivíduo quanto a cultura que ele representa.

2 comentários:

  1. Obrigado,agora a leitura da obra ficou mais clara!

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  2. Ótima resenha, realmente ajudou muito na compreensão geral do texto e também de alguns postos mais específicos.
    Parabéns!

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