Sergio Buarque de Holanda em um ensaio magistral!
Raízes do Brasil trata, essencialmente,
da transição do modo rural para o urbano que se delineava nas primeiras décadas
do século XX na sociedade brasileira. É muito importante perceber que o livro
foi escrito diante de um cenário de centralização administrativa que alterou o
lugar dos grupos de poder local e regional, principalmente depois da Revolta de
1930.
Fazendo uma análise mais global do
livro, é possível notar que Sergio Buarque de Holanda desenvolve um raciocínio
partindo de uma visão macro e sucessivamente vai destrinchando cada tema mais
restrito, até chegar às verdadeiras “Raízes do Brasil”. Partindo da análise do
que seriam Portugal e Espanha – Fronteiras da Europa, passando pela cultura da
personalidade e a virtude da aventura, depois dissertando sobre a herança que o
brasileiro traz desse contato, os desdobramentos da “Cordialidade” e por fim a chegada
dos novos tempos.
Em tese, poderíamos intuir que Sergio
Buarque está se perguntando “que tipo de urbano será possível em uma sociedade
que ainda demonstra muitos aspectos e condutas do antigo meio rural?” Segundo sua
análise mais complexa, seria necessário buscar uma explicação bem longe daqui.
Para ele, Portugal e Espanha não faziam parte do bloco econômico-cultural da
Europa. Por esse motivo ele intitula o primeiro capítulo como “Fronteiras da
Europa”, pois para ele a Ibéria apresentava uma cultura muito miscigenada,
influenciada por diversas religiões e invasões de outros povos que não faziam
parte do bloco dos países centrais do continente europeu.
Na sociedade ibérica, não só era
possível, como também era desejável que houvesse uma ascensão social. Em outras
palavras, a mobilidade social era permitida e até incentivada. Característica
muito distinta da que se apresentava na Europa, pois o Feudalismo europeu se
mostrou tão fortemente presente que fora preciso que a burguesia se organizasse
através de uma Revolução para ter condições de penetrar nas classes mais
abastadas daquela estrutura social. Já na Ibéria, até mesmo aqueles indivíduos
que ocupavam a posição de escravo, podiam ascender socialmente, chegando estes
a possuir outros escravos. No livro As Metamorfoses do Escravo de Octavio
Ianni, esta ascensão social fica bem cristalina.
Na verdade, na concepção Ibérica da
natureza humana, há de se valorizar o indivíduo que cresce e se desenvolve ao
longo da vida. É o que Sergio Buarque chama de “Cultura da Personalidade”, um
sentimento de autonomia e independência de um indivíduo que se sobressai em
relação aos demais. Isto é tido como um “valor”, sendo desejável e admirável.
Este sentimento, muito perene no descobridor desbravador, representa além de
outras coisas, uma característica que confere ao indivíduo a possibilidade da
mover socialmente na estrutura da sociedade Ibérica.
Tanto em Portugal quanto na Espanha, o
regime feudal nunca foi tão rígido, exatamente por isso, não foi necessário
promover uma revolução como as que ocorreram na França e na Inglaterra. O
Brasil como herdeiro dessa cultura, apresenta uma acomodação desses regimes,
promovendo uma transição suave, sem ruptura. A característica mais marcante
dessa acomodação pode ser exemplificada pela figura do “Homem Cordial”. Lembrando
que a cordialidade não tem relação com modo cortês e sim se cristaliza pelo
trato maleável que o brasileiro costuma se relacionar no seu dia-a-dia. Podendo
ser compreendido pelo famoso “jeitinho brasileiro”, pela situação corriqueira
de uma pessoa que vendo uma gigantesca fila bancária, logo se apressa em
procurar um conhecido que esteja mais próximo do caixa, com o objetivo de agilizar
sua vida, não sendo capaz de perceber que acaba por prejudicar outras pessoas.
Esta anedota serva para mostrar o que
Sergio Buarque chama de conflito entre público/privado. Para ele, a presença da
“cordialidade” faz com que os indivíduos tenham dificuldade para discernir o
público daquilo que é privado. Desta maneira, as pessoas acabam usando de suas
preferências particulares que deveriam ficar restritas aos relacionamentos e
aos assuntos privados, acabem sendo empregadas no âmbito público.
Segundo ele, estas relações sociais
predominantemente patriarcais, interferem na transição dessa sociedade causando
um desequilíbrio social. Sergio Buarque aponta as tensões da cidade como
herança do sistema patriarcal, colocando o patrimonialismo e o personalismo
como obstáculos a uma sociedade impessoal, moderna e livre que são
características imperativas para esses novos tempos de urbanização.
“Raízes do Brasil” é um dos livros mais
importantes para o entendimento da formação social do Brasil. Ao lado de “Evolução
Política do Brasil” de Caio Prado Jr e da dobradinha “Casa Grande &
Senzala/Sobrados e Mucambos” de Gilberto Freyre, é essencial para a boa formação
de um cientista social. Além disso, é uma excelente oportunidade para
acompanhar os pontos de divergência entre estes três autores que na maioria das
vezes foi feita de forma velada, entretanto a crítica as vezes foi aberta,
estando presente nessas três obras.
Espero que gostem deste resumo e que se
sintam motivados a incrementar seus estudos sobre a formação do pensamento
social do nosso país.
Boa leitura e boas indagações!
Um grande abraço.
Rodrigo Dias
estes textos são de dificil compreensão,mas com o dicionário dá de enterder alguma coisa
ResponderExcluirObrigado Rodrigo, muito bom seu resumo, ajudou muito!
ResponderExcluirOnrigado Pedro!
ExcluirGrande abraço.
Rodrigo Dias
Obrigada Rodrigo amei o seu resumo, claro,explicativo, dissertação muito inteligente.
ExcluirMuito bom. Sucinto e claro :)
ResponderExcluirObrigado pelo belo trabalho.
Muito bom, breve e cristalino. Decidido, vou ler o livro.
ResponderExcluirOlmiro C Brandt
Parabéns pelo resumo!!!
ResponderExcluirmuito bom esse trabalho show de bola parabéns ...!
ResponderExcluirmuito bom esse trabalho show de bola parabéns ...!
ResponderExcluirExcelente resumo!
ResponderExcluirParabéns Rodrigo.
Excelente resumo!
ResponderExcluirParabéns Rodrigo.
simples, coerente e estimulador a conhecer melhor o livro...parabéns pelo resumo.
ResponderExcluirMuito bom o texto e muito bem escrito! Dá para ter uma boa visão do livro.
ResponderExcluirEsse parece ser mais objetivo.
ResponderExcluirUma das melhores resenhas que eu já li acerca do livro "Raízes do Brasil". Parabéns, Rodrigo Dias.
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