quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Resenha de Raízes do Brasil






Sergio Buarque de Holanda em um ensaio magistral! 







Raízes do Brasil trata, essencialmente, da transição do modo rural para o urbano que se delineava nas primeiras décadas do século XX na sociedade brasileira. É muito importante perceber que o livro foi escrito diante de um cenário de centralização administrativa que alterou o lugar dos grupos de poder local e regional, principalmente depois da Revolta de 1930.
Fazendo uma análise mais global do livro, é possível notar que Sergio Buarque de Holanda desenvolve um raciocínio partindo de uma visão macro e sucessivamente vai destrinchando cada tema mais restrito, até chegar às verdadeiras “Raízes do Brasil”. Partindo da análise do que seriam Portugal e Espanha – Fronteiras da Europa, passando pela cultura da personalidade e a virtude da aventura, depois dissertando sobre a herança que o brasileiro traz desse contato, os desdobramentos da “Cordialidade” e por fim a chegada dos novos tempos.
Em tese, poderíamos intuir que Sergio Buarque está se perguntando “que tipo de urbano será possível em uma sociedade que ainda demonstra muitos aspectos e condutas do antigo meio rural?” Segundo sua análise mais complexa, seria necessário buscar uma explicação bem longe daqui. Para ele, Portugal e Espanha não faziam parte do bloco econômico-cultural da Europa. Por esse motivo ele intitula o primeiro capítulo como “Fronteiras da Europa”, pois para ele a Ibéria apresentava uma cultura muito miscigenada, influenciada por diversas religiões e invasões de outros povos que não faziam parte do bloco dos países centrais do continente europeu.
Na sociedade ibérica, não só era possível, como também era desejável que houvesse uma ascensão social. Em outras palavras, a mobilidade social era permitida e até incentivada. Característica muito distinta da que se apresentava na Europa, pois o Feudalismo europeu se mostrou tão fortemente presente que fora preciso que a burguesia se organizasse através de uma Revolução para ter condições de penetrar nas classes mais abastadas daquela estrutura social. Já na Ibéria, até mesmo aqueles indivíduos que ocupavam a posição de escravo, podiam ascender socialmente, chegando estes a possuir outros escravos. No livro As Metamorfoses do Escravo de Octavio Ianni, esta ascensão social fica bem cristalina.
Na verdade, na concepção Ibérica da natureza humana, há de se valorizar o indivíduo que cresce e se desenvolve ao longo da vida. É o que Sergio Buarque chama de “Cultura da Personalidade”, um sentimento de autonomia e independência de um indivíduo que se sobressai em relação aos demais. Isto é tido como um “valor”, sendo desejável e admirável. Este sentimento, muito perene no descobridor desbravador, representa além de outras coisas, uma característica que confere ao indivíduo a possibilidade da mover socialmente na estrutura da sociedade Ibérica.
Tanto em Portugal quanto na Espanha, o regime feudal nunca foi tão rígido, exatamente por isso, não foi necessário promover uma revolução como as que ocorreram na França e na Inglaterra. O Brasil como herdeiro dessa cultura, apresenta uma acomodação desses regimes, promovendo uma transição suave, sem ruptura. A característica mais marcante dessa acomodação pode ser exemplificada pela figura do “Homem Cordial”. Lembrando que a cordialidade não tem relação com modo cortês e sim se cristaliza pelo trato maleável que o brasileiro costuma se relacionar no seu dia-a-dia. Podendo ser compreendido pelo famoso “jeitinho brasileiro”, pela situação corriqueira de uma pessoa que vendo uma gigantesca fila bancária, logo se apressa em procurar um conhecido que esteja mais próximo do caixa, com o objetivo de agilizar sua vida, não sendo capaz de perceber que acaba por prejudicar outras pessoas.
Esta anedota serva para mostrar o que Sergio Buarque chama de conflito entre público/privado. Para ele, a presença da “cordialidade” faz com que os indivíduos tenham dificuldade para discernir o público daquilo que é privado. Desta maneira, as pessoas acabam usando de suas preferências particulares que deveriam ficar restritas aos relacionamentos e aos assuntos privados, acabem sendo empregadas no âmbito público.
Segundo ele, estas relações sociais predominantemente patriarcais, interferem na transição dessa sociedade causando um desequilíbrio social. Sergio Buarque aponta as tensões da cidade como herança do sistema patriarcal, colocando o patrimonialismo e o personalismo como obstáculos a uma sociedade impessoal, moderna e livre que são características imperativas para esses novos tempos de urbanização.
“Raízes do Brasil” é um dos livros mais importantes para o entendimento da formação social do Brasil. Ao lado de “Evolução Política do Brasil” de Caio Prado Jr e da dobradinha “Casa Grande & Senzala/Sobrados e Mucambos” de Gilberto Freyre, é essencial para a boa formação de um cientista social. Além disso, é uma excelente oportunidade para acompanhar os pontos de divergência entre estes três autores que na maioria das vezes foi feita de forma velada, entretanto a crítica as vezes foi aberta, estando presente nessas três obras.

Espero que gostem deste resumo e que se sintam motivados a incrementar seus estudos sobre a formação do pensamento social do nosso país.

Boa leitura e boas indagações! 

 Um grande abraço.

Rodrigo Dias

15 comentários:

  1. estes textos são de dificil compreensão,mas com o dicionário dá de enterder alguma coisa

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  2. Obrigado Rodrigo, muito bom seu resumo, ajudou muito!

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    1. Onrigado Pedro!
      Grande abraço.
      Rodrigo Dias

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    2. Obrigada Rodrigo amei o seu resumo, claro,explicativo, dissertação muito inteligente.

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  3. Muito bom. Sucinto e claro :)

    Obrigado pelo belo trabalho.

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  4. Muito bom, breve e cristalino. Decidido, vou ler o livro.
    Olmiro C Brandt

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  5. muito bom esse trabalho show de bola parabéns ...!

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  6. muito bom esse trabalho show de bola parabéns ...!

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  7. Excelente resumo!
    Parabéns Rodrigo.

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  8. Excelente resumo!
    Parabéns Rodrigo.

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  9. simples, coerente e estimulador a conhecer melhor o livro...parabéns pelo resumo.

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  10. Muito bom o texto e muito bem escrito! Dá para ter uma boa visão do livro.

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  11. Uma das melhores resenhas que eu já li acerca do livro "Raízes do Brasil". Parabéns, Rodrigo Dias.

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