quarta-feira, 11 de abril de 2012

Resenha de “Trabalho de Campo”, de Roberto DaMatta.



Capítulo 3 de Relativizando


A primeira impressão ao ler o referido texto é de satisfação. Somos privilegiados por ter acesso às opiniões desse extraordinário observador que é Roberto DaMatta. Posteriormente, se atendo ao objetivo instrutivo do texto, a leitura transcorre suavemente, principalmente porque grande parte dos exemplos faz parte do nosso cotidiano ou pelo menos do nosso conhecimento brasileiro.
Além disso, DaMatta soube transcrever com precisão e simplicidade uma das maiores questões conflituosas para aqueles que estão tendo o primeiro contato com a Antropologia. O iniciante tem obsessão por saber a teoria mais correta e fica extremamente frustrado e confuso com todas as possibilidades apresentadas pelos principais antropólogos do mundo. Inevitavelmente o aluno se consome na tarefa de descobrir quem está certo? Lévi-Strauss, Geertz, Boas, Malinowski, Evans-Pritchard? Quem? E DaMatta nos tranqüiliza, no momento em que descreve a Antropologia como Una e Múltipla. Una nos objetivos; no respeito por todas as formas de sociabilidade. Múltipla porque não se prende a uma única doutrina social; a uma única teoria que seja considerada a correta. O que nos faz entender que não há um caminho correto e que devemos nos munir de todas as ferramentas disponíveis para desenvolvermos nossa tarefa etnológica.
Ao desenvolver o tema “Trabalho de Campo”, o autor deixa transparecer os muitos momentos de tristeza, de solidão, de dificuldade que acompanham o etnólogo que deixa seu mundo para traz e se entrega em uma viagem profunda a fim de conhecer a coerência interna da vida de outras pessoas em comunidades isoladas, distantes da realidade do próprio antropólogo. Contudo, DaMatta recompensa o candidato à viagem com os prazeres que essa experiência única podem lhe proporcionar. Suas palavras de alegria ao retornar ao seio da sua sociedade são tão românticas que fazem o iniciante se inclinar para tal aventura esquecendo as possíveis dificuldades que surgirão no seu escritório distante.
 Do ponto de vista teórico, a parte do texto que afirma ser necessário transformar o exótico em familiar e o familiar em exótico como requisito obrigatório ao antropólogo se destacou. E chegando ao final do texto, foi possível perceber a inclinação do autor pela teoria conhecida como “Descrição Densa”, como sendo necessária ao desenvolvimento de um trabalho confiável, pois do contrário, não é possível mostrar os imponderáveis da vida cotidiana da comunidade em estudo.
Para DaMatta, a relação entre o pesquisador e o nativo é a parte mais difícil do trabalho de campo, principalmente porque é um aspecto totalmente humano da atividade e por mais que se tente copiar casos de sucesso, as experiências humanas de relacionamento são sempre uma interrogação.

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