O Liberalismo Político na Concepção de John Rawls
É preciso Vestir o Véu da Ignorância
Para tratar
do liberalismo político, Rawls inicia sua analise falando da justiça política
em uma sociedade democrática. Ele está interessado em saber como é possível
existir uma sociedade justa e estável formada de pessoas livres e iguais.
Segundo Rawls, a cultura política de uma sociedade é sempre marcada por uma
diversidade de doutrinas que são irreconciliáveis. Destarte, se faz necessário
saber quais são os fundamentos da tolerância humana, considerando esse
pluralismo, e qual é a melhor concepção de justiça para especificar os termos
equitativos de cooperação social entre os cidadãos livres.
Rawls
ressalta que diante de oposições tão profundas, engendradas por diferentes
religiões e correntes filosóficas, possa ser possível que haja uma cooperação
justa entre os cidadãos, entretanto, o liberalismo político pode apresentar
essa solução a partir de um conjunto de ideias e afins. Em primeiro lugar, ele
propõe dois princípios de justiça. O primeiro em que as pessoas têm igual
direito a liberdade básica e o segundo em que as desigualdades sociais e
econômicas devem estar vinculadas a posição de cargos abertos a todos e devem
representar maior benefício aos membros menos privilegiados da sociedade.
Assim,
a justiça como equidade deriva de uma ideia organizadora da sociedade concebida
como um sistema de cooperação social entre pessoas livres e iguais, conectados
e relacionados em todas as ideias e princípios. Tal concepção lhes possibilita
especificar publicamente o que deve ser reconhecido como razões válidas e
suficientes e quais são destacadas por essa mesma concepção. Em outras
palavras, a justiça como equidade se apresenta como algo que pode ser
compartilhada pelos cidadãos com base em um acordo político racional bem
informado e voluntário, mas que deve ser independente das doutrinas filosóficas
e religiosas. Pois o debate dos cidadãos no espaço público sobre os fundamentos
constitucionais e as questões básicas de justiça deve ser pautada em princípios
e valores políticos e não metafísicos.
Para
Rawls, o liberalismo politico tem por objetivo uma concepção politica de
justiça que se constitua numa visão auto-sustentável, não negando a existência
de outros valores que se apliquem ao familiar, ou ao pessoal, mas agindo
congruente com esses valores. Para ele, uma concepção politica apresenta 3
características básicas. Em primeiro lugar, uma concepção política de justiça
precisa se aplicar a estrutura básica da sociedade (instituições políticas,
sociais e econômicas de uma sociedade), em segundo lugar, aparece como uma
visão auto-sustentada, ou seja, tenta elaborar uma concepção razoavel somente
para a estrutura básica e não envolve, na medida do possível, nenhum
compromisso mais amplo com qualquer outra doutrina. E em terceiro lugar, o
conteúdo de uma concepção politica é expresso por meio de certas ideias
fundamentais vistas como implícitas na cultura política pública de uma
sociedade democrática. Assim, a justiça como equidade parte de uma tradição
politica e assume como ideia fundamental de sociedade como um sistema
equitativo de cooperação ao longo do tempo, de uma geração até a seguinte.
A fim
de descobrir a concepção tradicional de justiça, ou que variante dessas
concepções especifica os princípios mais adequados para realizar a liberdade e
a igualdade, Rawls intruduz o conceito de posição original. De acordo com
Rawls, a justiça como equidade retoma a doutrina do contrato social e adota uma
variante nos termos equitativos da cooperação social, concebidos como um acordo
entre as partes envolvidas, longe da ameaça da coerção, da força ou da fraude.
Além disso, nesse acordo, não deve haver vantagem de barganha maior entre uma
pessoa e outra. Entretanto, segundo Rawls, há uma dificuldade para encontrar um
ponto de vista apartado dessa estrutura básica abrangente, a partir do qual
equitativo entre pessoas livres e iguais possa ser estabelecido. A esse ponto
de vista, Rawls define como véu da ignorância. Motivo pelo qual, a posição
original deve abstrair as contigências do mundo social e não ser afetada para
manter um acordo sobre princípios que hão de regular as instituições da própria
estrutura básica.
Assim,
a posição original é apenas um artifício de representação que descreve as
partes, cada qual responsável pelos interesses essenciais de um cidadão livre e
igual, numa situação equitativa, alcançando um acordo de boas razões. A ideia é
usar a posição original para representar tanto a liberdade e a igualdade quanto
as restrições às razões apresentadas e de maneira tal que se tornem
perfeitamente evidente qual acordo seria feito pelos cidadãos. A ideia de
posição original serve como meio de reflexão e auto-esclarecimento público,
ajuda-nos a elaborar o que pensamos agora, desde que sejamos capazes de ter uma
visão clara e ordenada. O que nos possibilita estabelecer uma coerência maior
entre todos os nossos julgamentos de uma forma mais profunda, chegando a um
acordo mais amplo uns com os outros.
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