domingo, 28 de abril de 2013

Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande





Apêndice IV – Algumas reminiscências e reflexões sobre o trabalho de campo









É claro que a intenção de Evans-Pritchard não é fornecer um manual rígido sobre como fazer um trabalho de campo! Ainda que os alunos, principalmente os iniciantes, busquem incessantemente e erroneamente uma forma “correta” de se fazer antropologia! Como diria Roberto Da Matta, é preciso relativizar. Além disso, comparar, agrupar, e acima de tudo, aproveitar todas as experiências antropológicas de outros pesquisadores para enriquecer seus conhecimentos sobre o que é um trabalho de campo, mas não se esqueça de uma coisa: dificilmente o seu trabalho de campo será exatamente como foi o de outro pesquisador. As situações serão únicas e você irá precisar se adaptar. O que você pode fazer é se preparar para enfrentar estes problemas que irão surgir. 


E segundo Evans-Pritchard, ter uma boa formação teórica em antropologia social é muito mais do que desejável. É imprescindível! Ele argumenta que na ciência, como na vida, só se acha aquilo que se procura. Não se pode estudar alguma coisa sem se ter uma teoria a seu respeito. É muito importante fazer um estudo prévio sobre a região que se pretende explorar, buscar relatos de outros pesquisadores, etc. Todo saber é relevante para seu trabalho de campo! Mas ele deixa claro que é preciso saber o que se procura, mas também é preciso seguir as pistas que surgem durante sua atividade. Se os nativos se interessam por religião, é imperioso que se estude essa relação!


Durante todo o texto, o que Evans-Pritchard faz é dar alguns exemplos da sua experiência como antropólogo, citando algumas situações que podem se repetir durante qualquer trabalho de campo. E algumas vezes ele arrisca dar dicas teóricas que também devem ser levadas em consideração. Uma delas é sobre a importância de se estudar mais de uma sociedade, sempre que possível. Segundo ele, além do antropólogo ter outro parâmetro que não seja a comparação direta com a sua sociedade de origem, o próprio antropólogo já é mais experiente e pode encontrar mais facilmente aquilo que realmente importa.


Outra questão teórica que ele discute é sobre a condição do antropólogo enquanto observador participante. Para ele, o antropólogo torna-se, ao menos temporariamente, um indivíduo duplamente marginal, alienado de dois mundos, do seu e do mundo dos nativos. Ao mesmo tempo em que o observador participante busca entrar intensamente na cultura estudada, ele também procura manter guardar alguma distância de segurança que lhe permita analisar externamente a cultura. Deixando claro que o antropólogo é uma pessoa e pode ser afetado e transformado pela cultura que está estudando. 


A posição do antropólogo também é discutida no texto. Segundo Evans-Pritchard, o pesquisador não se encaixa nas categorias nativas, pois ele não precisa se comportar como homem ou como mulher em determinadas situações. O antropólogo está fora das categorias, pois está fora da esfera social do grupo.


Outra dica dada pelo antropólogo inglês é sobre a presença de pessoas não nativas nas regiões estudadas. Sejam missionário, autoridades, médicos, biólogos, etc. Nessa situação, é preciso ser condescendente. Pois embora o antropólogo saiba mais sobre teoria antropológica que estes habitantes, eles sabem muito mais sobre os fatos etnográficos da região, pelo menos no início do trabalho de campo. Cautela aos assuntos religiosos e com a interpretação que os missionários podem dar aos assuntos do grupo. Algumas aproximações com termos do cristianismos são frequentes e podem não representar o verdadeiro significado para o povo estudado. 


Ele ressalta que infelizmente a antropologia tornou-se uma noção repugnante para alguns povos dos estados novos e independentes, especialmente na áfrica. Para estes povos, a antropologia lhes cheira a colonialismo, que significa superioridade de uma classe ou raça sobre outras. Por este motivo, para Evans-Pritchard, é mais conveniente que os antropólogos se passem por historiadores ou linguistas para não ofenderem ninguém. 


Por fim, ele volta a afirmar o que já havia feito em diversas partes do texto que é extremamente importante que o antropólogo tenha domínio sobre a língua dos nativos. Assim ele poderia fugir de interpretações errôneas realizadas pelos intérpretes e até poderia voltar a verificar e verificar uma informação que não esteja sendo coerente. 


Volto a afirmar que a intenção de Evans-Pritchard não é fornecer um manual para o trabalho de campo. Assim, como aporte teórico, é um material muito relevante para a formação de novos antropólogos. Além disso, a leitura é extremamente fácil e suas inserções práticas são bem explicativas, enriquecendo o conhecimento e a curiosidade.



Espero que leiam não só o apêndice em questão como também o livro todo que é referente ao povo Azande!



Um grande abraço e boas indagações!

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