Gilberto Freyre
Formação da Família Brasileira
Sob o Regime Patriarcal.
É
importante ressaltar que Gilberto Freyre fazia parte de uma família abastada de
Pernambuco. Além disso, que teve uma formação em Ciências Sociais iniciada no
Brasil que foi completada nos Estados Unidos. Freyre chegou a ser aluno de
Frans Boas e demonstra neste ensaio que foi muito influenciado pela escola
americana de antropologia cultural. Não só por Boas, como também por outros
alunos que foram seus contemporâneos como Margaret Mead e Ruth Benedict.
Do
ponto de vista literal, Casa Grande & Senzala está dividido em 5 capítulos
que tratam na sua essência da colonização portuguesa no Brasil, da sociedade
agrária e escravocrata que se formou, de como o índio, o negro e português contribuíram
para este Brasil que conhecemos. Ainda que a teoria de Freyre apresente muitas
lacunas e tenha (e ainda tem) provocado grande controvérsia no debate acadêmico,
é impossível negar a grandiosidade de Casa Grande & Senzala para a
literatura brasileira. Poucos ensaios foram capazes de apresentar o cotidiano
do Brasil Rural do início do século XIX.
Casa
Grande e Senzala foi lançado em 1933, período em que o Brasil passava por
transformações significativas que tiveram seu início em 1930. A sociedade presenciava
uma centralização administrativa que alterava o lugar dos grupos de poder local
e regional, acompanhados da urbanização e da reestruturação da família e de
suas moradias. E Freyre demonstra todo seu conservadorismo em relação à essa
situação.
É
preciso notar que Gilberto Freyre desenvolve Casa Grande & Senzala com uma perspectiva
a partir da sua posição de homem branco e senhor. Ainda que ele tenha
enaltecido a presença do Negro, sua nostalgia pela cultura patriarcal transparece
sua posição social, pois este tempo foi muito difícil para a maioria dos
brasileiros, principalmente para o Negro.
Ele
defende que a Casa Grande foi o centro de coesão da sociedade. Que a Casa
Grande, completada pela Senzala, representava todo um sistema econômico,
social, político, religioso e sexual. E que a miscigenação existente corrigiu a
distância social entre negros e brancos no Brasil. Enfatizando que o regime de
trabalho imposto após a abolição foi muito mais cruel com os proletários do que
o regime escravocrata.
É
interessante notar que Freyre parte do argumento econômico para explicar a
estrutura social. Segundo ele, a estrutura social que se concretizou foi fruto
do sistema de produção da época. A monocultura latifundiária mantinha senhor,
escravos e agregados unidos, garantia a moradia e a alimentação de brancos e
negros e realimentava a hierarquização que para ele garantia a unidade e a
força da sociedade brasileira que não se reproduziu em outros países que foram
colonizados também.
A tese
central de Gilberto Freyre pode ser compreendida pela que ele mesmo chamou de
equilíbrio dos antagonismos. A Casa Grande seria o símbolo da inexistência do
conflito entre senhor e escravo. Além de dividirem o mesmo espaço entre a Casa
Grande e a Senzala, senhor e escravos tinham suas distâncias sociais reduzidas
com as constantes relações sexuais que mantinham.
Para
ele, a formação coesa da sociedade se deu fundamentalmente pelo patriarcado e
pela interpenetração das culturas. Por isso ele escreve na tentativa de
retornar às tradições como forma de reabilitar valores que foram sendo perdidos
com o passar do tempo. Para ele, a dinâmica que se processava entre as relações
da Casa Grande e da Senzala agiam de forma a equilibrar os antagonismos da
sociedade e era exatamente neste equilíbrio que se pautava a coesão da
sociedade.
Casa
Grande & Senzala é, como afirmou Darcy Ribeiro, uma façanha da cultura
brasileira. Um livro denso, mas que flui muito bem devido ao jeito amolengado e
brasileiríssimo de Gilberto Freyre escrever. Por mais que tenhamos tido contato
com a obra original e com as várias críticas sobre o trabalho de Freyre, sempre
será muito útil retornarmos a este livro para fortalecer nossa formação,
principalmente nas questões nacionais.
Espero que depois de ler este resumo se sinta motivado a degustar as mais de 500 páginas de Casa Grande & Senzala.
Boa leitura e boas indagações.
Um grande abraço.
Rodrigo