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Com pouco mais de 6 meses no ar, o Blog Sociologia e Antropologia despertou o interesse de algumas pessoas, haja vista o número de visitantes que está disponível no rodapé do site.
Uma das consequências dessa exposição foi o recebimento de resenhas escritas por outras pessoas que estavam interessadas em colaborar com o blog.
Pois aí está a primeira contribuição escolhida.
A autora é Panmila Provietti, aluna do curso de Ciências Sociais da UFRJ e ela disserta sobre um dos principais trabalhos de Foucault.
Boa leitura a todos!
O livro “Microfísica do Poder” de Foucault aborda o relacionamento entre “Soberania,
Disciplina” e “Governamentalidade”.
Nesta obra, Foucault avalia a
teoria do pensamento jurídico que na idade média girava em torno do poder do
rei e o direito como um instrumento da dominação do rei sobre os súditos.
Ao abordar a questão do poder e
como este se aplica na sociedade, Foucault afirma que o poder está em todo
lugar e este se baseia em saberes e discursos. Esses discursos tem como funções
legitimar os direitos da soberania e legitimar a obrigação de obediência.
O autor quer analisar o direito
como instrumento da dominação, não nas esferas filosóficas, mas nos níveis
elementares da sociedade, como instituições locais e regionais. Também se
pretende analisar de forma objetiva, visando seus objetos, seus alvos e campo
de aplicação. Foucault não pretende analisar a alma central – o Estado, mas os corpos
– na idade média os súditos, que sofrem o efeito do poder.
O poder não é homogêneo, segundo
Foucault, e não pode ser apropriado como um bem. O poder funciona e se exerce
em rede, não se aplica aos indivíduos, passa por eles, pois se encontra no meio
dos saberes.
Para Foucault o poder não está
constituído de ideologias, mas de um conjunto de técnicas que foram se
refinando como uma ciência de forma a alcançar os objetivos do poder que é a
dominação.
Foucault
faz uma relação com “O Príncipe” de Maquiavel, onde as ações dos governantes
para adquirir poder se dava através de conquistas territoriais, cargos doados
pela Igreja ou por herança. Não há uma relação entre o príncipe e seu
principado, fazendo com que este governante fique constantemente ameaçado por
inimigos que querem tomar o poder e por seus súditos que não aceitam sua
soberania. Para Foucault é preciso dominar a arte de governar onde, La
Mothe Le Vayer (1588-1672) indica
que esta arte se dá por uma continuidade ascendente e outra descendente entre o
governo moral de si mesmo, o governo econômico da família e o governo político
do Estado. Ascendente, porque quem quiser governar o Estado, primeiro precisa
saber governar a si próprio e sua família.
E
descendente, visto que, governantes que governam bem um Estado, também
governarão adequadamente suas famílias, seus bens e propriedades.
É
preciso segundo Foucault prestar a atenção e adquirir um controle no e sobre o
cotidiano dos indivíduos, seus costumes, hábitos e maneira de pensar. E não
mais somente no controle de território como propõe Maquiavel.
Nos
meados do século XVIII surge um novo mecanismo de poder, que se opõe ao da
teoria da soberania. Esse novo mecanismo de poder extrai dos indivíduos tempo e
trabalho, e não mais bens e riquezas. Contém uma vigilância e atuação continua,
indicando aos homens como se comportarem.
Nesse
novo mecanismo o Estado não é um poder central para poder discutir
politicamente na modernidade, este é tão importante quanto às outras
instituições – escolas, família, fábrica, etc. e o crescimento deste se dá
junto com a arte de governar, ou seja, com o controle das ações dos indivíduos.
Essas
instituições - escolas, família, fábrica, etc. possuem força no saber e
institui um controle sobre a sociedade, seja na vigilância hierárquica (em
escolas, por exemplo, onde inspetores vigiam alunos), em uma sanção
normalizadora ou através de exames, onde estamos a todo o momento sendo
examinados (nas fabricas quem está bem e quem está mal; nas escolas através de
aplicações de provas).
O
poder está em todo lugar e não se concentra somente no Estado. O Estado,
segundo Foucault, é só mais uma instituição e segue o caminho da sociedade
geral.
O
poder está em todo lugar e se baseia em saberes e discursos. Esses discursos
mudam a cada época e todos nós estamos envolvidos nesses sistemas de discursos.
Segundo
Foucault esses discursos definem procedimentos de exclusão, pois vai determinar
quem pode e quem não pode falar sobre determinado assunto e o que pode e o que
não pode ser falado.
Segundo
Foucault a ideia é corrigir “humanizar” esse individuo para que ele possa
voltar a viver em sociedade. Podemos citar como exemplo um presídio, onde
presos recebem acompanhamento psicológico, psiquiátrico, de um assistente
social, etc., tentando a todo instante humanizar esse indivíduo para que este
possa voltar a ter convívio de acordo com as regras. Tal ato não indica uma
liberdade, indica um controle maior sobre os indivíduos. O que ocorre nos
presídios ocorre na sociedade e em suas instituições como escola, fábrica,
família, etc. que indicam a todo instante como devemos agir e nos comportar.
Haverá
segundo Foucault sempre uma multiplicidade de discursos, fazendo com que a
sociedade entre em choque. Não há uma coesão social, havendo sempre conflitos
de ideias, de poderes e hierarquias. Segundo Foucault o mundo é desorganizado e
nenhum grande discurso predomina na sociedade.
Panmila Provietti.