domingo, 31 de março de 2013

Resenha de Casa Grande & Senzala


Gilberto Freyre





Formação da Família Brasileira

Sob o Regime Patriarcal.





É importante ressaltar que Gilberto Freyre fazia parte de uma família abastada de Pernambuco. Além disso, que teve uma formação em Ciências Sociais iniciada no Brasil que foi completada nos Estados Unidos. Freyre chegou a ser aluno de Frans Boas e demonstra neste ensaio que foi muito influenciado pela escola americana de antropologia cultural. Não só por Boas, como também por outros alunos que foram seus contemporâneos como Margaret Mead e Ruth Benedict.

Do ponto de vista literal, Casa Grande & Senzala está dividido em 5 capítulos que tratam na sua essência da colonização portuguesa no Brasil, da sociedade agrária e escravocrata que se formou, de como o índio, o negro e português contribuíram para este Brasil que conhecemos. Ainda que a teoria de Freyre apresente muitas lacunas e tenha (e ainda tem) provocado grande controvérsia no debate acadêmico, é impossível negar a grandiosidade de Casa Grande & Senzala para a literatura brasileira. Poucos ensaios foram capazes de apresentar o cotidiano do Brasil Rural do início do século XIX.

Casa Grande e Senzala foi lançado em 1933, período em que o Brasil passava por transformações significativas que tiveram seu início em 1930. A sociedade presenciava uma centralização administrativa que alterava o lugar dos grupos de poder local e regional, acompanhados da urbanização e da reestruturação da família e de suas moradias. E Freyre demonstra todo seu conservadorismo em relação à essa situação.

É preciso notar que Gilberto Freyre desenvolve Casa Grande & Senzala com uma perspectiva a partir da sua posição de homem branco e senhor. Ainda que ele tenha enaltecido a presença do Negro, sua nostalgia pela cultura patriarcal transparece sua posição social, pois este tempo foi muito difícil para a maioria dos brasileiros, principalmente para o Negro.

Ele defende que a Casa Grande foi o centro de coesão da sociedade. Que a Casa Grande, completada pela Senzala, representava todo um sistema econômico, social, político, religioso e sexual. E que a miscigenação existente corrigiu a distância social entre negros e brancos no Brasil. Enfatizando que o regime de trabalho imposto após a abolição foi muito mais cruel com os proletários do que o regime escravocrata.

É interessante notar que Freyre parte do argumento econômico para explicar a estrutura social. Segundo ele, a estrutura social que se concretizou foi fruto do sistema de produção da época. A monocultura latifundiária mantinha senhor, escravos e agregados unidos, garantia a moradia e a alimentação de brancos e negros e realimentava a hierarquização que para ele garantia a unidade e a força da sociedade brasileira que não se reproduziu em outros países que foram colonizados também.

A tese central de Gilberto Freyre pode ser compreendida pela que ele mesmo chamou de equilíbrio dos antagonismos. A Casa Grande seria o símbolo da inexistência do conflito entre senhor e escravo. Além de dividirem o mesmo espaço entre a Casa Grande e a Senzala, senhor e escravos tinham suas distâncias sociais reduzidas com as constantes relações sexuais que mantinham.

Para ele, a formação coesa da sociedade se deu fundamentalmente pelo patriarcado e pela interpenetração das culturas. Por isso ele escreve na tentativa de retornar às tradições como forma de reabilitar valores que foram sendo perdidos com o passar do tempo. Para ele, a dinâmica que se processava entre as relações da Casa Grande e da Senzala agiam de forma a equilibrar os antagonismos da sociedade e era exatamente neste equilíbrio que se pautava a coesão da sociedade.

Casa Grande & Senzala é, como afirmou Darcy Ribeiro, uma façanha da cultura brasileira. Um livro denso, mas que flui muito bem devido ao jeito amolengado e brasileiríssimo de Gilberto Freyre escrever. Por mais que tenhamos tido contato com a obra original e com as várias críticas sobre o trabalho de Freyre, sempre será muito útil retornarmos a este livro para fortalecer nossa formação, principalmente nas questões nacionais.

Espero que depois de ler este resumo se sinta motivado a degustar as mais de 500 páginas de Casa Grande & Senzala.

Boa leitura e boas indagações. 

Um grande abraço.

Rodrigo
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